Olá novamente.
Quero avisar-vos desde já (aos três que ainda insistem em ler isto) que este post não tem como objectivo ter piada e ainda menos satirizar ou estereotipar um qualquer grupo étnico ou social.
O que vou escrever aqui diz apenas respeito a uma experiência extraordinária que tive a sorte de poder viver e que gostava de partilhar convosco.
"...chegámos a Alvor às 8:30 da matina mais mortos que vivos da viagem nocturna que se prolongou por cerca de 9 horas - bem dita hora que a minha mãe sugeriu que saíssemos mais cedo, caso contrario ainda estariamos a conduzir em pleno Alentejo - pensei eu.
Parámos o carro no aeródromo, e após rogar pragas ao S. Pedro (estava sol em todo o algarve excepto ali) aterrámos num ápice em terras de sonhos, tal era o cansaço que 600km provocaram sem piedade alguma.
Meia hora de sono depois, o resto da malta começa a chegar e dá-se início ao ritual «Arrudês» da palhaçada matinal até que chega o senhor Mário Pardo.
Para ser sincero, a minha primeira impressão foi:
« cabelo comprido grisalho, árnettes vermelhos brilhantes e a fazer 'hangloose' (sinal típico de surfistas que consiste em fechar a mao e esticar apenas o mindinho e o polgar como que quem diz - destroi as ondas, não as praias), Oh não! A única coisa que me faltava era um cota com crises de identidade e que julga ser o 'Triplo X'»O 'briefing' foi dado dentro de um hangar onde se encontravam suficientes pessoas para eu achar que estava gente a mais.
Escutei todas as explicações e procedimentos com o meu ar de engenheiro, que aprendi no Técnico (consiste em fazer uma cara de quem está a perceber tudo o que se está a passar à volta de modo a que as pessoas não reparem que estou aterrorizado por ir saltar de um avião a mais de 4500m da altura, atrelado a um tipo de cabelos brancos cujas primeiras palavras que disse foram:
«Tão? Tá-se bem?») e assisti impacientemente aos saltos que antecederam o meu.
Primeiro o da Dora, depois o da minha irmã, e por fim o da Dyana. Correram todos bem (à excepção da aterragem da Dora que foi um pouco 'forçada', principalmente junto a zona traseira) e a Dyana nem desmaiou.
Era agora. O momento que eu tanto ansiava (ou temia - ainda não sabia muito bem) tinha chegado.
Quando dei por mim ja estava dentro do avião com mais 14 ou 15 malucos tipo sardinhas em lata a aguardar o instante decisivo em que a porta se iria abrir. Olhava para os relógios/altímetros dos outros tipos e milhares de coisas me passavam pela cabeça em simultâneo, à medida em que os ponteiros davam voltas completas sucessivas nos mostradores. A vista (apesar de apenas conseguir vislumbrar através de um bocadinho de duas janelas para a traseira do avião) era de tirar o fôlego.
«OK! READY? GO GO GO» ouviu-se atrás de mim...
Em menos de 10 segundos a porta abriu-se e 14 ou 15 malucos desapareceram da minha frente como se de balas a sair de um carregador de uma arma automática se tratassem...
... e de repente encontrei-me sozinho no avião, completamente preso ao Mário e com o câmeraman (o Filipe) a pendurar-se fora do mesmo.
Caminhámos meio de cócoras, meio aos tranbolhões até a porta e ao toque no ombro coloquei-me em posição.
Braços cruzados, calcanhares para trás - estava neste momento supenso pelo Mário do lado de fora do avião e a sensação era absolutamente maravilhosa. O pôr do sol á minha frente, a nuvem gigantesca por baixo de mim, o Câmera à minha direita e fêz-se o click!
Nesse instante, todos os meus receios se dissiparam, a ânsia de mergulhar naquele vazio tomou conta de todos os meus músculos e no momento em que gesticulei um 'fixe' para a posteridade, sáltamos!
Uma sensação incrivel atravessou-me por completo! Um autêntico desafio a todos os meus sentidos. Nada me podia ter preparado para o que estava a experimentar naquele momento. Apesar de não conseguir sequer respirar devido ao ar gélido que escoava a minha volta a cerca de 230Km/h gritei como se não houvesse amanhã. E soube tão bem! Senti a adrenalina a percorrer as minhas veias e o coração a bater a mil à hora. Nunca me tinha sentido tão vivo como durante aquele minuto de queda em que nada nem ninguém mais existia.
Novo toque no ombro, e retomei a posição de ataque.
A dor que me percorreu o corpo quando o paraquedas se abriu é indescritível, mas quase nem a senti devido ao estado de êxtase em que me encontrava...
Já com o paraquedas aberto, tive oportunidade de relaxar... admirar a vista... e voltar a inspirar oxigénio. O sorriso parvo da cara não mo tiraram mais. Ainda tive a oportunidade de pilotar a asa antes da aterragem final, meio aparvalhada.
Foi um dia que nunca esquecerei..."
A todos os que tiveram a mesma oportunidade que eu,
Aos que não saltaram mas que nos acompanharam,
Ao Mário Pardo (que afinal sempre era um porreiro!!!) e ao Filipe,
E sobretudo ao Tó,
Um grande grande obrigado.
E a quem leu até aqui, um obrigadinho, vá!
Saúde